Os vieses do Manifesto Ágil e da Agilidade
O Manifesto Ágil está fazendo 23 anos, foi publicado em fevereiro de 2001 e foi essencial para mudarmos a forma como fazemos software.
Ele foi elaborado e assinado por 17 pessoas que tinham algumas coisas em comum, eram todas homens, brancas e desenvolvedoras de software em empresas de consultoria em desenvolvimento de software sob demanda.
Também sou homem, branco, então não me sinto capacitado para falar sobre possíveis vieses que essa falta de diversidade pode ter causado ao Manifesto Ágil.
Contudo, trabalhei toda minha carreira por mais de 30 anos com desenvolvimento de software em empresas que construíam produtos digitais, ou seja, que tinham times de desenvolvimento de software internos para desenvolver e manter produtos que eram usados pela empresa para atingir seus objetivos estratégicos enquanto resolvia problemas e necessidades de seus clientes.
Por isso digo que o Manifesto Ágil tem um forte viés para processo. Por isso que o manifesto diz que:
Estamos descobrindo maneiras melhores de desenvolver software, fazendo-o nós mesmos e ajudando outros a fazerem o mesmo.
Repare que o foco é em “descobrir maneiras melhores”, ou seja, foco claro no processo.
Se ele fosse reescrito da seguinte forma:
Estamos descobrindo maneiras de desenvolver o melhor software, fazendo-o nós mesmos e ajudando outros a fazerem o mesmo.
O foco passa ser não só o processo como o resultado desse processo, o software, que é o produto digital. E esse é o foco da gestão de produtos.
Reafirmo a importância do Manifesto Ágil e de seu valores:
- Indivíduos e interações mais que processos e ferramentas
- Software em funcionamento mais que documentação abrangente
- Colaboração com o cliente mais que negociação de contratos
- Responder a mudanças mais que seguir um plano
Sem os quais é impossível fazer bom software.
Contudo, para nos ajudar a aumentar as chances de entregarmos produtos digitais de sucesso, devemos também ter uma Cultura de Produto com seus 4 valores:
- Entregas rápidas e frequentes: não dá para querer inovar e fazer novos produtos fazendo entregas mensais ou trimestrais de código.
- Foco no problema: entender bem o problema para só depois pensar em hipóteses de solução. Testar diferentes hipóteses para ver qual resolve melhor e mais rápido.
- Entrega de resultados: o que um time de desenvolvimento de produtos tem que entregar são resultados. Produto, app, feature, algoritmo não são o objetivo, são meios para entrega de resultado. Quando falamos de entrega de resultado, estamos falando de entrega de resultado para a empresa, que é dona do software, e para a usuária do software, que quer ter seu problema resolvido ou necessidade atendida.
- Mentalidade de ecossistema: é o foco no cliente, só que turbinado. Toda empresa tem mais de um cliente, e é preciso entender esses diferentes tipos de clientes e suas relações.
Que são o complemento para nos ajudar a entregar softwares cada vez melhores.
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